A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER
[Isabel Nogueira, 67, Rue Greneta,
Lisboa: Artefacto, 2014]
por Inês Dias, em 31 de Maio de 2014
Para apresentar este livro da Isabel, começaria por aquilo a que ela chama, logo no primeiro texto, a “pergunta inicial”: “E lá voltamos à pergunta inicial. Por que partimos? E foi neste ponto que os argumentos se esgotaram. À excepção de um. O mais importante: porque tem de ser.” (p.10)
Se substituirmos o “partimos” por escrevemos, temos já aqui o princípio de uma espécie de poética: Por que escrevemos? Porque tem de ser.
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Este é o argumento “mais importante”, mas não o único. Há poucas semanas, na Culturgest, Rosa Maria Martelo apresentou uma comunicação intitulada “Devagar, a poesia”, em que identifica uma tendência que, a seu ver, marca a actual poesia portuguesa. Trata-se de uma aposta na desaceleração, na lentidão, por reacção à velocidade cada vez mais desumanizante dos nossos tempos.
Parece-me que tal é visível, por exemplo, no bucolismo esclarecido de José Miguel Silva em Serém, 24 de Março (Averno, 2011); nos dois últimos livros de Adília Lopes, sintomaticamente intitulados Apanhar Ar (Assírio & Alvim, 2010) e Andar a Pé(Averno, 2013), por de certo modo proporem uma nova respiração, uma nova passada; ou ainda no muito recente Autocataclismos, de Alberto Pimenta (Pianola, 2014), em que um dos poemas nos apresenta mesmo um ciclista que cai e se volta a levantar para continuar caminho, não no “sentido único” de Benjamin (convocado no livro que agora apresentamos), mas – e cito – “no sentido contrário”.